Furnarius leucopus

Hábitat

O casaca-de-couro-amarelo Furnarius leucopus (família Furnariidae, ordem Passeriformes^9,13), tem uma ampla distribuição geográfica no Brasil, com registros de ocorrência em áreas mais abertas da Amazônia, em regiões do Pantanal, Cerrado, Caatinga e Mata Atlântica, do nordeste até o estado de Minas Gerais^8,13. Habita áreas de borda de florestas, bosques, campos abertos, sempre próximo de cursos d’água, em matas ciliares e também no interior das matas^12,13.

Ocorre também em outros países, como Colômbia, Equador, Peru, Guiana, Venezuela e Bolívia^1,5,7,13.

Locais de observação

Altamira e Camaçari, Bahia (9 ninhos), Quebrangulo, Alagoas (2 ninhos)

Época de reprodução

A época de reprodução de F. leucopus, segundo diferentes pesquisas, varia de acordo com o ambiente e a região em que habita. No Brasil, registros feitos no Pantanal, região centro-oeste, indicam que a espécie se reproduz entre os meses de julho e outubro¹² o que corresponde a estação seca. (Como é Pantanal, sempre existem poços com água ? é bomn dizer ? porque na ausencia disso nunca o Joao-do-barro vai construir na seca) Já na região nordeste temos registros de período reprodutivo entre os meses de janeiro e junho, acompanhando a estação das chuvas em Alagoas e Pernambuco¹¹.

Estudos realizados no Peru demonstraram que o início da construção dos ninhos se dá em meados de outubro, sendo que em novembro ocorre o acasalamento⁵. Outros pesquisadores detectaram o início da época de reprodução no Equador em dezembro, sendo que o término dos cuidados parentais com as crias se deu no mês de abril². Esses dados reforçam a hipótese de que o início do período reprodutivo de F. leucopus dependerá de sua região de ocorrência, bem como bioma e país.

(Se deixar este paragráfo vamos ter que escrever a que estação corresponde : seco ou chuvoso)

Ninho

O casaca-de-couro-amarelo constrói um ninho do tipo ‘fechado’, em forma de forno de barro^4,5,10,11.

A estrutura do ninho do tipo ‘fechado’ é muito semelhante ao de Furnarius rufus, mas o de F. leucopus é um forno de menor tamanho e estrutura mais grosseira, pois a lama, que é mais escura, e a palha não são tão cuidadosamente seladas, como faz o joão-de-barro⁴. Com isso, o ninho do casaca-de-couro-amarelo tende a se desintegrar mais rapidamente após a época de reprodução. Estudos indicam que outras espécies de Furnariidae, como o Furnarius figulus, podem ocupar ninhos abandonados de F. leucopus que ainda estejam habitáveis⁶.

Geralmente o casal de F. leucopus constrói o ninho em locais menos expostos que o Furarius rufus, como em árvores em bosques e nas bordas de florestas.

Ambos os indivíduos que formam um casal trabalham igualmente na construção do ninho, aparentemente sem distinção nas tarefas executadas⁵. Os materiais utilizados são lama coletada em beiras de rios e locais alagados, misturada com folhas e gramíneas, podendo até mesmo conter penas de outras aves^4,5. Além destes podemos também encontrar materiais inusitados, tais como um pedaço de tecido incorporado à estrutura de um ninho observado em Monte Gordo (Camaçari ?àé-è), estado da Bahia, em 30 de janeiro de 1981.

Durante a construção do ninho o casal se revesa nas atividades de busca de materiais e a construção de fato, sendo que esse revesamento pode acontecer com intervalos de mais de 60 minutos entre as atividades⁵. Também já se observou que o casal pode ter instantes de descanso, durante o qual nenhum dos dois realiza atividades que tenham ligação com a construção da estrutura do ninho⁵.

Após finalizado, os ninhos observados nos três municípios nordestinos apresentaram as seguintes dimensões: 16 a 18 cm de altura; 24 cm de diâmetro na base; 13 cm de diâmetro no centro do ninho; abertura de entrada do ninho com 3,5 cm de diâmetro e de 5,5 a 8 cm de altura. Também detectou-se que os ninhos estavam a uma altura de cerca de 1,80 a 2 m do solo, e pesavam entre 2 e 2,4 Kg. Os dados coletados na região nordeste do Brasil demonstram que não há um padrão na direção da abertura de entrada no ninho de F. leucopus, já que dois ninhos apresentavam entrada do lado direito com corredor à esquerda, e outro entrada do lado esquerdo com corredor à direita.

Esses dados são muito próximos dos dados apresentados em um dos primeiros registros das características de um ninho em forma de forno de F. leucopus, realizado no Peru. Naquele estudo o ninho observado apresentava 29 cm de diâmetro, 21 cm de altura total, além de 9 cm de altura da abertura de entrada⁵. O peso registrado pelo pesquisador para o ninho foi de 2 Kg⁵.

Ovos

Postura média de 2,3 ovos brancos (9 ninhos). Corresponde a um estudo pioneiro realizado no Peru⁵. Dimensão dos ovos 25,3 x 19,6 mm, peso 4,3 g..  Forma oval curto, à oval pontiagudo ou ainda eliptico.

Incubação

16 dias (1 ninho), 17 dias (1 ninho) perfazendo. O mesmo período de 16 a 17 dias foi detectado por um pesquisador no Peru⁵.

Filhotes

Os filhotes nascem nus, com pele de cor rosa salmão a rósea amarelada, sendo todos enrugados.

Permanência no ninho

20 dias (1 ninho). Outro estudo registrou a primeira saída dos filhotes para explorar o ambiente aos 15 dias de vida⁵.

Permanência no ninho dos jovens

Nos observamos um periodo de 37 dias em 1 ninho.

Há apenas um registro na literatura acerca do período em que os filhotes permanecem no ninho, desde a eclosão dos ovos até a saída definitiva: entre 26 e 33 dias⁵.

Comportamento geral 

O casaca-de-couro-amarelo é uma espécies discreta, que não se aproxima das habitações humanas. O casal canta um dueto, semelhante ao seu parente Furnarius rufus, o famoso joão-de-barro. (O mesmo nome é usado para os dois…).

Os indivíduos podem ser vistos caminhando sobre o solo, solitários ou em casal – ainda que eventualmente em pequenos grupos⁷ – ciscando e forrageando, caminhando sobre as pedras^2,13.

Já foram registrados diferentes comportamentos de forrageio, os quais resultam em diferentes tipos de presas das quais F. leucopus se alimenta. De forma geral tem-se a ideia de que o casaca-de-couro-amarelo tem uma dieta majoritariamente composta por insetos e outros pequenos invertebrados¹³. Mas como sabemos, essa espécie ocorre em muitos e diferentes países, ambientes e localidades. Com isso, sua dieta tende a ser diversa e vai muito além de invertebrados, como nos mostram pesquisas conduzidas no estado do Ceará, Brasil, onde um indivíduo adulto de F. leucopus foi observado predando uma espécie de anuro, fato até então inédito para a ciência brasileira³. Na região oeste do Equador, o casaca-de-couro-amarelo foi flagrado em comportamento de pesca de pequenos peixes para se alimentar¹. Ou seja, longe de ser uma espécie endêmica do Brasil¹⁰ – apesar de ser considerada como residente⁹ –, podemos considerar que F. leucopus é capaz de apresentar tantos comportamentos de forrageio e dietas distintas quanto o número diverso de ambientes naturais que habita pela América do Sul.

Os duetos realizados pelo casal de F. leucopus, normalmente no período da manhã, entoam belos cantos, muito parecidos com os do joão-de-barro (F. rufus). Porém o canto do casaca-de-couro-amarelo é ‘mais acelerado, uma risada longa, aguda’, que o diferencia de seu parente joão-de-barro^12,13. A relação de acasalamento de F. leucopus é monogâmica, sendo que ambos os indíviduos cuidam igualmente das crias¹⁰.

Entre em contato com a autora para mais informações: info@avesbrazil.org