Turdus leucomelas

Habitat

Ocorre em áreas de matas de galeria, regiões de coqueirais, cultivos de café, beiras de mata, áreas de cerrado, com ampla distribuição no território nacional, presente de Norte a Sul do país^10,11. Também pode ser comumente visto em áreas urbanas como jardins, parques e áreas mais arborizadas¹² .

O sabiá-barranco é classificado como uma espécie de ave residente no Brasil⁷, e não realiza migrações no país. Além disso, ocorre também em praticamente todos os demais países da América Latina, como Paraguai, Uruguai, Argentina, Bolívia, Peru, Colômbia, Guianas e Suriname^10,12.

Localidades de observação dos ninhos

Quebrangulo, Alagoas (35 ninhos); Arcos, Minas Gerais (30 ninhos); Camaçari, Bahia, (4 ninhos).

Época de reprodução

Na regiâo do nordeste, em Quebrangulo e em Camaçari, encontramos ninhos de  fevereiro a maio. Na região centro-sul, municipio de Arcos, todos os ninhos se concentravam entre os meses de outubro e dezembro. Em todas essas localidades, a reprodução corresponde ao periodo chuvoso.

Outros pesquisadores indicam que em geral o período de reprodução dessa espécie abrange um intervalo amplo entre os meses de agosto e maio^3,5,8,12.

O ninho

O ninho consiste em uma estrutura do tipo aberta em forma de taça profunda, cuidadosamente elaborada com pequenos galhos, folhas, raízes, micélios, musgo e cascas de árvore, sempre construídos com lama ou areia em sua base. A câmara de incubação, no interior do ninho, sempre é forrada com materiais mais macios, como fungos e musgos⁸. A proporção desses materiais varia de região para região, de acordo com o que for disponível nos diferentes ambientes de ocorrência dessa espécie^5,8 .

Dimensões: diametro externo 14 cm, diametro interno 8,5 cm, altura externa 11 cm , altura interna 5,5 cm (19 ninhos). Peso: 160-200 g (8 ninhos).

Em Parnamirim, Rio Grande do Norte, outros pesquisadores registram medidas médias semelhantes⁸.

Outro ponto é característico do sabiá-barranco: não costuma construir seu ninho em locais muito altos. Em nossas observações de 69 ninhos, registramos : 9 ninhos diretamente no solo, 22 ninhos em barrancos de beiras de trilhas ou riachos entre 0,40 e 1,50 m do solo. A grande maioria dos ninhos eram situados à menos de 1,50 m do solo: diretamente no solo (9 ninhos), em barrancos de beiras de estradas ou riachos (36 ninhos). Outros eram construídos entre 1,60 e 3 m, em bananeiras, palmeiras ou diversas outras árvores (30 ninhos), e somente 4 ninhos entre 4 – 5 m do solo

Também já encontramos ninhos em diversas “espécies” de casas habitadas tais como sobre pilhas de sucata e de lixo.

Ninhos foram encontrados em cactos, em galhos de árvores e também em ambientes antrópicos. Ou seja, isso reforça a característica plasticidade da espécie em adaptar-se aos mais distintos ambientes⁸.

Ovos e postura

A postura média é de 2,6 ovos (28 ninhos). Os ovos são esverdeados e cobertos com manchas castanho-avermelhadas ou marrons, as vezes formando uma coroa no polo arredondado. Forma oval comprido.

Outras pesquisas também indicam que as fêmeas realizam a postura de 2 a 3 ovos por ninhada, podendo chegar até 4 ovos em alguns casos^3,5,8,12; e que o tamanho dos ovos pode variar de 26,6 x 19,5 mm⁸ , com peso variando entre 4,2⁸, 6, 6,1⁸ e 6,4⁵g.

Incubação

12 dias (2 ninhos), 13 dias (2 ninhos).

Outras pesquisas indicam que na maior parte dos casos o período de incubação é de 12 dias, podendo chegar até 14 dias^5,8,12.

Os jovens

Os filhotes de T. leucomelas nascem nus, com pequenas penugens finas e amarelas na cabeça. A pele é lisa e brilhante, de cor acinzentada e esverdeada nas costas e amarelo nas pregas da pele da barriga. Bico e pernas apresentam uma cor malva, com bordas branco-marfim. A garganta é amarela, tingida de malva na parte posterior.

Permanência dos jovens no ninho

Os filhotes permanecem no ninho por um período que pode variar de 12 a 18 dias, como pudemos detectar em nossos estudos.

Registros realizados em outras áreas de ocorrência dessa espécie^5,8,12.

Comportamento geral

O sabiá-barranco é uma ave discreta, de hábitos diurnos e alimentação diversificada. Observamos frutos, insetos, anfíbios, repteis e pequenos vertebrados^4,6,10.

Importantes registros realizados nas regiões Sudeste e Norte do Brasil revelaram que a espécie é predadora de lagartixas, cobras-cegas e até mesmo de pequenos mamíferos roedores^6,9. Apesar de consumir quantidades significativas de frutos e artrópodes, a presença de pequenos vertebrados no cardápio do sabiá-barranco, sejam répteis, anfíbios ou mamíferos, incrementa a disponibilidade nutricional especialmente para seus filhotes. Os registros acima descritos foram realizados em períodos de cuidado parental do sabiá-barranco. Dessa forma, pode-se inferir que esse tipo de predação ‘rara’ ocorra em função da necessidade de se suprir as demandas protéicas e energéticas dos ninhegos de uma maneira mais efetiva^{6,9 4,10}.

Pesquisas realizadas no estado de São Paulo, descrevem um caso onde um casal de sabiá-barranco obteve ajuda de um indivíduo adulto de tico-tico Zonotrichia capensis durante o período de cuidado parental de seus ninhegos, pois dentre eles havia um ninhego do chupim Molothrus bonariensis. O chopim, por sua vez, é uma espécie de ave conhecidamente parasita, e que, neste caso, parasitou o ninho de T. leucomelas. Dessa forma os três filhotes de sabiá-barranco e o filhote de chupim receberam cuidados parentais tanto do casal de sabiá quanto do tico-tico adulto¹.

Os pesquisadores inferem que a vocalização do filhote de chopim tenha atraído o adulto de tico-tico ao ninho, uma vez que a relação de parasitismo interespecífico entre essas duas espécies é muito comum¹. Nos observamos esse fonemoeno em Arcos, MG, veja capitulo referente ao tico-tico Zonotrichia capensis nesse publicação.

Em alguns momentos específicos o casal de T. leucomelas apresentou comportamento agressivo diante de Z. capensis, mas não a ponto de impedi-lo de oferecer alimento aos ninhegos e também retirar sacos fecais do ninho¹.

Entre em contato com a autora para mais informações: info@avesbrazil.org