Zenaida auriculata

Hábitat

Pode ser encontrada em áreas abertas com arbustos e vegetação baixa no cerrado e na caatinga e em áreas agrícolas, como por exemplo plantações de cana-de-açúcar, soja e café.

Localidades

Arcos, Minas Gerais (13 ninhos)

Período de reprodução

Setembro a outubro

O ninho

Tem a forma de uma taça rasa simples, construída no solo com radículas, pequenas hastes e nervuras de capim, ou em arbustos, um pouco mais elaborado e resistente, com radículas e pequenos gravetos.

Quatro ninhos foram encontrados no solo e sete em cafeeiros, em alturas que variavam de 1 a 1,5 m. Um ninho foi localizado na fenda de um penhasco, escondido pela vegetação, a 3,5 m do solo. Outro ninho estava no topo de um ninho de Phacellodomus rufifrons em 1,5 solo e outro sob o telhado de uma fazenda.

Dimensões: diâmetro externo 19 cm, diâmetro interno 8 cm, altura externa 10 cm, altura interna 3 cm (5 ninhos). Peso 50 g (2 ninhos em arbustos), 20 g (3 ninhos no solo).

Análise de um ninho de 20 g

45 ramos e 30 hastes de grama de 4 cm a 20 cm de comprimento.

De acordo com dados da literatura, os seus hábitos reprodutivos variam de acordo com a região geográfica e o tipo de substrato disponível para a nidificação. Na Caatinga e no arquipélago de Fernando de Noronha os ninhos são geralmente ralos, com pouco ou nenhum graveto, construídos diretamente no solo e em menor frequência em arbustos^1,3,6. Fora do nordeste brasileiro a nidificação no chão ocorre em canaviais do Paraná, de São Paulo e Mato Grosso do Sul onde geralmente os ninhos são ralos, com pouca palha⁶. Pesquisadores do Rio Grande do Sul relataram ninhos construídos em canaletas metálicas de um parque industrial a cerca de 6 m de altura⁴. Nas demais regiões as pombas tendem a nidificar em árvores e arbustos⁶.

Na Argentina a pomba constrói ninhos com gravetos em diferentes alturas de árvores e arbustos².

Os ninhos estudados no Rio Grande do Sul foram construídos com fios de arame, fios de plástico de 0,5 mm de diâmetro, gravetos, raízes, pedaços de plástico, elastômeros, fio de nylon e fio de teflon. Esse dado curioso deve-se ao local de nidificação: Um parque industrial, onde esses materiais sintéticos disponíveis tiveram uma maior proporção na construção do ninho, 83%, em comparação com os 17% de material vegetal. Os ninhos tinham dimensões médias de 15 cm de diâmetro externo, 5,6 cm de diâmetro interno, 4,0 cm de altura⁴.

Ovos e posturas

Postura de 2 ovos brancos (12 ninhos). Dimensões: 28,1 x 21,5 mm, peso 5,6 g (1 ovo). Forma elíptico longo.(verificar)

Medidas aproximadas foram encontradas no rio Grande do Sul 28 x 22 mm⁴ , enquanto no Nordeste do Brasil as dimensões médias registradas foram 30 x 24 mm e o peso médio de. 7,5 g.³

Incubação

16 dias (1 ninho).

Dados da literatura indicam o período de incubação entre 13 e 14 dias ^{2, 4,5}.

Permanência dos filhotes no ninho

14 dias (2 ninhos), 12 dias (1 ninho); 11 dias para um ninho no solo quando os jovens deixaram o ninho caminhando e se esconderam na vegetação circundante.

No Rio Grande do Sul os jovens permaneceram no ninho por 16 dias e durante os últimos dois dias batiam as asas como exercício para treinar o voo⁴ .Na Argentina a permanência de filhotes no ninho variou entre 12 e 15 dias².

Os jovens

Aos 6 dias, apresentam uma fina penugem bege, pouco densa, cobrindo a pele que é inteiramente cinza escuro. O bico é acinzentado com nuances de rosa com a ponta preta. A garganta é rosa pálida e a língua é mais escura, tendendo para a cor de vinho. Antes de voar os filhotes saem e se escondem na vegetação.

Comportamento geral

Discreto, sinaliza sua presença pelo seu grito trêmulo de duas ou três sílabas, emitidas em um tom grave. Procuram alimento no solo, caminhando solitário ou aos casais em busca de grãos e pequenos invertebrados. Quando assustados levantam voos ruidosos ao baterem as asas com força para ganhar velocidade.

É sempre muito cauteloso e escolhe um local escondido para construir o seu ninho na vegetação. Seus filhotes são às vezes infectados pelas larvas da mosca Philornis sp. conforme observamos em 14 de dezembro de 1995, quando encontramos um jovem parasitado por larvas embaixo de cada asa.

A espécie é caracterizada por ser nômade e se locomover de acordo com a disponibilidade de alimentos nas paisagens naturais de vegetação aberta ao longo da sua área de distribuição geográfica.

Consta que no sertão nordestino, ao longo de décadas, as avoantes costumam chegar em determinadas regiões logo após as chuvas para aproveitar o alimento produzido por plantas herbáceas nativas de ciclo curto, que brotam, florescem, frutificam e produzem sementes num pequeno espaço de tempo. De acordo com estudos realizados por outros autores, logo que esse alimento escasseia elas partem para novas áreas^1,3,6.

Alguns pesquisadores mencionam que devido às alterações ambientais alguns de seus hábitos vêm sendo modificados, especialmente relacionados à reprodução e alimentação⁵. De fato, as pesquisas realizados na região sudeste do Brasil relatam que com a intensificação e expansão das áreas agrícolas as aves passaram a se alimentar em maior proporção de grãos de arroz, trigo e soja das lavouras e a nidificar nas plantações de cana-de-açúcar.

Em alguns locais dessas regiões foi observada a tendência para a reprodução colonial, onde antes reproduziam de forma isolada, fato que também ocorreu na Argentina^2,6.

Tal mudança de comportamento reprodutivo é atribuída às alterações na paisagem, onde a conversão de áreas naturais em áreas agrícolas levou ao aumento na disponibilidade de alimento, que também se tornou mais regularmente disponível devido às múltiplas safras⁶.

Na Caatinga da região nordeste do Brasil a reprodução ocorre por meio da formação de colônias reprodutivas temporárias, às vezes bastante numerosas, que obedecem a disponibilidade de alimentos de acordo com o regime de chuvas.  Nessa região do semiárido nordestino a pressão da caça é muito grande e é necessário que estratégias de manejo para a sua conservação sejam intensificadas pelos órgãos oficiais de proteção ambiental.

Entre em contato com a autora para mais informações: info@avesbrazil.org